6 de fevereiro de 2009

A despedida





Ela acordou e nem se deu ao trabalho de procurar mais alguém na cama. Era só abrir os olhos e ela estava lá, naquela velha poltrona, pernas cruzadas, xícara de café entre as mãos, como sempre a lhe sorrir.
O sorriso aquela manhã fora mais curto, a distância que as separava também. A menor logo abandonou a poltrona e a xícara de café. E o curtissímo tempo que ela demorou para se aninhar a outra na cama, foi o tempo que a outra avistou aquela poltrona solitária, e seria assim que teria que acostumar-se a vê-la.Fechou os olhos e uma lágrima rolou, também sozinha...
Mas em meio a beijos macios q lhe tocavam o rosto, logo aquela lágrima desapareceu. Cada uma se apertou mais aos braços da outra... Quantas vezes estiveram assim, escutando suas respirações, sentindo o coração uma da outra, como se fossem seus próprios? E quanto demoraria para estarem assim outra vez... foi o que pensaram, ao mesmo tempo, enquanto se apertavam ainda mais nos braços uma da outra.
Elas mantinham os olhos fechados e sem nenhuma pressa a mão de uma descia pelas costas da outra. E ao mesmo tempo a respiração da outra tocava o pescoço de uma. E quase como um reflexo suas pernas se encaixam. E aquela mão, e também uma outra, subia pelo ventre de alguma, pousando no rosto de outra. E um suspiro mais longo tocou o rosto da outra. E como se ainda fosse possível: apertaram-se mais no corpo uma da outra.
Dedos treinados abriam caminho para habilidosos lábios, que pacientemente achavam outros. Devagar as bocas se tocaram uma e outra vez. E uma nova lágrima surgiu, mas elas já se confundiam de tal forma que mal dava pra saber onde ela começava.
Os lábios se desgrudaram e logo os rostos se uniram, numa confusão de lágrimas. Depois se consolaram num emaranhado de pequenos e persistente beijos, distribuídos sem qualquer critério ou direção.
Se moveram apenas para certificarem-se que já estavam mais próximas que podiam. E outra vez uma mão começa a desvendar um corpo, sem pressa ela vai descobrindo dois. E entre dois ventres ela continua a explorar, e não é detida sequer por aquele pano fino. Mas tudo fica ainda mais fácil quando uma das pernas move-se um pouco mais facilitando a recepção dos já esperados dedos. E quando estes, enfim, chegam ao seu destino, deslizando devagar por aquela superfície macia, aquela mesma perna pousa sobre o corpo da outra, apertando-a ainda mais de encontro ao seu. Itensificando ainda mais aquele contato.
Enquanto elas se movem em sincronia, uma de encontro a outra, e de encontro com o prazer, abriram-se os olhos. Se buscaram com a mesma sintonia com que se moviam. Uma enxergava o brilho intenso, a outra o scurecer anunciante do gozo. E o vai e vem que para elas poderia ser infinito, estava prestes a trazer as convulsões da quase palpável realidade... teria fim...
E com a respiração entrecortada alguém disse:
- Adeus, meu amor.
- Até logo, meu anjo. - suspirou a outra.
E os lábios se uniram uma vez mais, enquanto os olhos fechavam com a esperança e o sonho de que, como suas bocas e seus corpos estavam unidos naquele momento, elas permanecessem assim... também no segungo seguinte... e no próximo... sempre.

3 comentários:

Fóssil disse...

Sensual e terno. De algum modo lembra a música que eu tô ouvindo, do Nação Zumbi: "Eu vou te dar um prato de flores e no seu ventre vou fazer o meu jardim que vai florir, que vai florir". Poética até o talo! haha Parabéns, Day!

O Eu Flor que sonha. disse...

Que lindo Dy.
Consigo sentir voce em cada palavra.realmente.
Intenso demais como tudo que escreves!

Saudades grandes por aqui viu?

beijos ;*

Arnaldo Vieira disse...

O poeta é um fingidor...
finge tao completamente que chega a convencer o leitor de que é ele que está lá...
me senti amado e saudoso...
^^

 
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