25 de janeiro de 2009

As rosas, com carinho



- Mãe! Como as plantas nascem? – perguntou a menina pulando no colo da mãe.
A mãe sorriu, imaginou aquela cena por tantas vezes: as perguntas estranhas que os filhos fazem. Mas ela, que quando mais nova nem gostava de pensar na idéia de ter filhos, se divertia com aquelas perguntas da filha. Colocou os papéis que lia de lado, colocou a menina no chão, levantou-se e oferecendo sua mão a filha perguntou:
- Vem comigo?
- Sim!! – disse a menina animada.
E mãe reconheceu no sorriso da filha, um outro sorriso que amava muito.
Chegaram até o jardim, rodeado de roseiras, uma enorme grama verde e outras flores que bravamente disputavam espaço com as rosas vermelhas que podiam ser vistas por todo lado.
A criança assistia atenta a outra mulher acariciar as rosas, depois de algum tempo, ela voltou para junto da menina e disse:
- Abre a mão.
- Ta aqui. – disse a menina estendendo a mãozinha.
- Isso se chama semente. – disse a mulher colocando um grãozinho na mão da filha.
- Semente...
- Isso. A vida das plantas fica guardada ai dentro. E para ela sair daí de dentro ela precisa de algumas coisas. De terra fofa, de água, de sol, de cuidado.
- E se tiver tudo isso ela já aparece assim grandona? – perguntou a menina apontando para uma das roseiras.
- Que nada. Pra ficar assim grandona tem que dar isso tudo, todo dia, tem que ter cuidado.
- É por isso que sou pequena? – perguntou ela concentrada na semente.
- Como assim meu anjo?
- Eu não vivo na terra, e bebo água de vez em quando, por isso sou pequena, e você grandona.
- rsrsrsrsrsr, mas meu amor, você não é planta. Não precisa de terra, precisa de outras coisas, pra também crescer.
- Mas eu vim de uma semente mãe.
- Veio?
- Sim, e eu cresci na barriga da mamis, e fiquei grande demais pra crescer lá, e ae ela me colocou pra fora.
- Ta amor, você veio de uma semente, mas de outro tipo. E você saiu da barriga da mamis porque você queria muito me ver, e também tinha um monte de gente que queria ver você.
- Mas mãe, eu não lembro de querer te ver.
- Não? – a mãe fingiu certa indignação.
- Acho que me lembro um pouquinho... – disse a menina fazendo um gesto de pouquinho com os dedos.
- Ah sim... pensei que você só queria saber da sua mamis.
- Não!!! Eu gosto das duas, igual! O Caio gosta mais do pai dele, porque ele diz que a mãe dele briga muito com ele, ele me perguntou como eu agüento ter duas mães? – disse a menina rindo.
- E como você agüenta? – perguntou a mãe divertida.
- A mamis briga mais, mas ela também cozinha muito bem, e é muito carinhosa. Você quer sempre saber dos meus deveres da escola, mas me ensinou a andar de bicicleta, ninguém mais sabe andar tão bem na minha sala. Eu agüento porque eu amo vocês.
- Ai que coisa linda, a gente também te ama! – disse a mãe abraçando a filha.
- Mãe porque aqui tem tanta rosa?
- Você não gosta?
- Gosto sim! São lindas e tem até de outras cores.
- São pra sua mamis.
- O pai do Caio dá aqueles buquês pra mãe dele, aquele que vem no plástico, ae ela coloca no vaso verde.
- E o que acontece com elas depois?
- Ela murcham, e ela joga no lixo.
- Por isso aqui tem tantas rosas. Um dia, eu vi uma lá na praça, muito linda e lembrei da sua mamis, só que se eu tirasse ela de lá, ela ia murchar e morrer. Então eu corri pra cá e plantei uma sementinha dessa. Ta vendo aquela planta maior, foi a primeira que plantei.
- E a mamis sempre olha pra ela da janela.
- E ela sempre lembra de que quero dar uma rosa pra ela hoje, e amanhã, e depois, para ela lembra de que eu a amo.
- Eita! Você ama a mamis desse tanto? – disse ela apontando para todas as roseiras assustada.
- Mais- disse a mãe sussurando. – Mas não conta pra ela que ela é convencida.
- Tah combinado! – disse a menina piscando.
- Mãe, e as rosas de outras cores? Foi você que plantou?
- Algumas sim, outras foi sua mamis. Tah vendo aquelas brancas do lado daquela grandona?
- Sim! É a segunda mais bonita depois da grandona da mamãe.
- Pois eu plantei ela no dia que você nasceu. E depois sua mãe plantou outra, e eu outra, e cada ano a gente planta uma diferente.
- Então vocês me amam também!
- Claro que sim! E sempre que você tiver dúvida, você vem até aqui e olha pra cada uma dessas rosas, que crescem todo dia como o nosso amor!
A menina abraçou a mãe bem forte, depois olhou para a semente em sua mão.
- Mãe se eu cuidar dessa semente ela cresce?
- Se você cuidar direitinho cresce sim.
A menina se soltou da mãe, colocou a semente na terra, do lado da roseira branca, pegou um pouco de água e começou a despejar:
- Sementinha do amor eu vou cuidar de você pra crescer forte e bonito como o meu amor pela mamis e pela mãe.
A mãe assistia emocionada a cena que a filha protagonizava, quando dois braços tão conhecidos seus a envolveram.
- O que vocês estão aprontando? – perguntou a mulher enquanto abraçava a outra.
- A sua filha é linda! – disse a outra enquanto se aninhava ainda mais nos braços da outra.
- Deve ser porque é sua também. – disse a que acabou de chegar enquanto depositava um beijinho na face da outra.
- Mãe! Mamis! Vem cá, olha! – disse a menina animada apontando pra terra. – Olha com eu amo vocês!
Era só a terra fofa, mas a menina já enxergava uma linda planta nascendo, e crescendo, e quem teria coragem de dizer que ali não havia amor?

2 comentários:

Unknown disse...

''Amo a maneira com q vc escreve!
sua inspiraçaõ é d+++!!
Day parabéns....num para de escrever nunca!!!!

Fóssil disse...

Lindo, poético... não há forma melhor de falar do amor à inocência. Belíssimo!

 
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