7 de janeiro de 2009

Amargo Abandono


O quarto de minha vida está vazio. De onde vêm essas palavras, que arriscam-se no meio da noite, diante da escuridão da angústia?
Quantas folhas desperdiçadas,

Quantas garrafas vazias...

E me pergunto quanta tinta ainda terá que manchar o chão, para que voltes por um instante e me traga mais uma estrofe?


E as palavras, como os sonhos, se perderam dentro de mim.

Estão presas na garganta junto com aquele renegado choro.

Silenciaram como os teus os passos, dados na casa tecida em sonhos, que agora parece distante demais de se alcançar.

As luzes estão apagadas, e será que alguém ainda vive lá?
Talvez a minha esperança,

Capenga, caduca,

Sentada de frente pra janela.
Ela tem os olhos vidrados naquele caminho de pedra, onde ela já te prevê contornando, brincando com as flores ao redor.
Mas até estas murcharam, e muitas se foram, com a chegada do inverno.


E eu devo ser uma daquelas flores, que tão dedicada tu cultivastes, esperando o momento certo de colhê-las, e ainda hoje resistem.
Hoje elas resistem à falta de sol, a falta de água, a falta de teu sorriso e de tuas canções.

Pobres flores que ainda conservam a cor para o momento de serem colhidas, e se perguntam sempre que anoitece, e tu não vens, se já não passou o esplendoroso momento em que elas seriam colhidas, para enfeitarem tua cabeça, ou tua cama, ou a tua cozinha.


E não é a desordem que se apodera dos móveis simetricamente dispostos, que tu escolhestes, mas o abandono.Eles pararam no tempo e hoje formam um belíssimo retrato com meu amontoado de folhas de papel tingidas de palavras de amor.

O silêncio brutalmente engoliu as canções que embalavam aquela dança matinal, de passos curtos e abraços apertados.
E aquele relógio, que tanto fizestes questão de ter, desafia esse gigante silêncio, e cada segundo que ele anuncia, é menos um para tua volta.

E então a esperança arrisca-se a sorrir, quase revigorada,
Pois o tic-tac do velho relógio, lembra a cadência do meu coração, que te aguarda, te aguarda, te aguarda...

3 comentários:

Camila Castro disse...

dy...

lindo filha...
ainda me surpredendo com a tua capacidade de me fazer ter certos sentimentos e reflexões...

ser humano do meu coração.. se cuida.

;*

Arnaldo Vieira disse...

Eu imagino que texto sairia se "as palavras nao tivessem se perdido" dentro de você. rsrs
Vi a esperança sentada... =)
Adorei, Dy.

Fóssil disse...

"O quarto de minha vida está vazio."

Que dizer de um texto que começa assim? Lindíssimo, como só uma casa e uma vida em abadono poderiam fazer.

 
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