1 de fevereiro de 2012

Fragmentos da Primavera

VI

Na primavera de 1964 uma moça rompeu com um rapaz porque ele jamais lhe daria o que ela precisava. Ele não lhe dava segurança, garantia de futuro, nem nada que se esperaria de um marido comprometido. Enquanto ela dizia que iria deixá-lo, que ele precisava ser mais insistente e correr atrás de seu futuro com a voracidade dos campeões, ele não lhe disse uma palavra.

Ela se irritava com o silêncio dele e logo lhe deu as costas para partir.

- Não se esqueça das flores. – ele disse enquanto empunhava um ramalhete de flores do campo.

Ela não lhe deu mais ouvidos e seguiu em frente: arrumou um marido que tinha um bom emprego, um tom de voz convincente, muitos amigos e futuro para lhe dar.

Muitas primaveras depois aquela mulher levava sua neta a floricultura para escolher as flores do seu casamento. Pensava em sua vida, já perto do fim, que foi adornada com um marido invejável que nunca lhe deu flores ou um beijo sequer que lhe despertasse a alma, mas que por outro lado lhe deu estabilidade e filhos lindos.

Ao entrarem na floricultura sua neta logo se distraiu com as rosas coloridas, ela por outro lado teve a atenção voltada para uma cena ao fundo: um senhor oferecia a uma senhora um ramalhete de flores que esta recebia com sorriso enorme e lágrimas nos olhos. Foi então que ela se lembrou daquele rapaz, que lhe oferecia flores e “nenhum futuro” e pensou que os príncipes encantados afinal, talvez, não empunhem espadas e tenham medo de seus próprios dragões.

VII

Quando a realidade nos alcança tenho vontade de dizer:

- Te concentra nos meus olhos e não pensa em mais nada além de nós.

Eu adormeço antes de completar o pensamento.

VIII

A tua ausência deixa a primavera mais tímida.

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