1 de dezembro de 2010

As lágrimas de dezembro, que escorrem janela abaixo

Dezembro chegou e com ele as chuvas, por isso faz o que se pode chamar de frio, nessas terras escaldantes. É noite e o céu está vermelho, carregado de nuvens pesadas de lágrimas, que é como costumo definir a chuva. Estou na varanda, violão, uma xícara de café, um Baudelaire - que descobri perdido por uma das prateleiras - e esse gato preto, encolhido perto da porta, que a dois dias me faz companhia, sorrateiro.
Meu espírito, calmo e tranquilo como costumava ser... não me inquieta a solidão ou silêncio, pelo contrário, os aprecio infinitamente. Mas muito embora não me incomode, e as janelas continuem abertas a espera de uma brisa, é justamente nessas noites pseudo-frias que sinto falta de um corpo para me esquentar... Não só um corpo, porque isso é muito fácil de arrumar, mas um espírito que acompanhe o meu... De um par de olhos atentos enquanto leio, escrevo, tento tocar... De uma nuca na qual eu pudesse me perder... De um abraço onde eu pudesse me encontrar...
Acabei de receber uma carta daquela moça de não sei onde, que escorracei do quarto e me disse boas verdades... Ela me pede que eu lhe entregue meu coração. Como lhe explico que já não há possibilidade de dispor daquilo que já não é nosso!?
Gostar é sempre um perigo, quando você menos espera você já gosta tanto que quer dar outro nome para isso... como se o gostar não coubesse mais em si... No fim das contas só me resta abrir mais as janelas, na esperança de que sopre uma brisa diferente e eu esqueça esse gostar, antes que ele já não caiba mais em si e se transmude em... amor.


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