15 de março de 2009

Elegia a um demônio





De todas as musas,
Tu foste a única que me levou a vontade de viver.
Me levou as palavras,
O arranjo imperfeitamente perfeito que conseguia dar a elas;
A astúcia das idéias, a insinuação das possibilidades.
Levaste tudo contigo, da mesma maneira que trouxe,
Como um sopro, feito uma feiticeira.

De todas as feiticeiras,
Tu foste a que mais me encantaste.
Sim, pois bastava uma palavra tua para que toda mágica se fizesse,
Os dias ruins ficavam bons como mágica
E era uma alegria quase alada.
Uma palavra, ou três
Como um sibilar, como uma cobra.

De todas as cobras,
Tu foste a que me feriu mais profundamente
E tua picada, tão silenciosa como mortal
Depositou aos poucos, eficazmente,
O veneno em minha alma
Perigosamente tentadora e irresistível
Como um vício, como um fantasma.

De todos os fantasmas
Tu foste aquele que persistiu em me atormentar
Vagando pelos quartos escuros e vazios
Daquela mesma alma que morre,
Silenciosamente envenenada.

Assim como morre em mim, o poeta,
Que morre por palavras não ditas
Por arranjos mal feitos
Por sonhos e lembranças calados.
Morre o poema,por fim,
Por falta de rima, ou por falta de amor.

5 comentários:

Calli disse...

nao deixe morrer o poeta,lhe digo!
deixe sim apodrecer as lembranças dessa feiticeira-cobra.
Ou que elas não doam tanto,lhe inspirando a ser mais e mais forte

*-*

Fóssil disse...

Da musa ao demônio, do amor à morte. O doce e amargo amor. É lindo demais, Day! E o melhor é constatar que apesar de tudo a tua poesia está ainda mais viva, ainda mais bela. Como sempre, melhor que sempre. Parabéns!

O Eu Flor que sonha. disse...

eu de novo[no login certo]: so pra parabenizar novamente,por fazer viver a poesia ;)

;***

Arnaldo Vieira disse...

Prefiro que a morte por falta de rima... viva os versos e os amores livres, sem dor, sem veneno, sem culpa...^^

Conta-se que um imperador romano tomava um pouquinho de veneno todo dia pra se tornar imune, evitando, assim, que um dia fosse envenenado com uma dose completa.
Sao assim os poemas, nos forçam a lembrar das dores, mas nos deixam mais fortes.
=)
Sigo o voto de Calli...rsrs

Nathália Castro disse...

Eu tou sem palavras...como diz nosso amigo Beto "é lindo demais, Day"!
Lindo e Encantador!=)

 
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