
De todas as musas,
Tu foste a única que me levou a vontade de viver.
Me levou as palavras,
O arranjo imperfeitamente perfeito que conseguia dar a elas;
A astúcia das idéias, a insinuação das possibilidades.
Levaste tudo contigo, da mesma maneira que trouxe,
Como um sopro, feito uma feiticeira.
De todas as feiticeiras,
Tu foste a que mais me encantaste.
Sim, pois bastava uma palavra tua para que toda mágica se fizesse,
Os dias ruins ficavam bons como mágica
E era uma alegria quase alada.
Uma palavra, ou três
Como um sibilar, como uma cobra.
De todas as cobras,
Tu foste a que me feriu mais profundamente
E tua picada, tão silenciosa como mortal
Depositou aos poucos, eficazmente,
O veneno em minha alma
Perigosamente tentadora e irresistível
Como um vício, como um fantasma.
De todos os fantasmas
Tu foste aquele que persistiu em me atormentar
Vagando pelos quartos escuros e vazios
Daquela mesma alma que morre,
Silenciosamente envenenada.
Assim como morre em mim, o poeta,
Que morre por palavras não ditas
Por arranjos mal feitos
Por sonhos e lembranças calados.
Morre o poema,por fim,
Por falta de rima, ou por falta de amor.