2 de junho de 2009

Da janela



O céu vermelho anuncia a chuva noturna. Cansadas as pessoas voltam para casa, fecham suas portas e dão inicio ao seu velho ritual. Elas mal se falam e é uma tal de dor de cabeça ou o mal comportamento do menor. E quando ele só quer descansar ela fala... E fala sobre estar gorda... E fala da vizinha que largou o marido... E fala da casa q precisa de reforma... E ralha com ele por estar todo sujo... E reclama que ele não lhe dá atenção.

Do outro lado da rua ele senta no bar pela terceira vez... Ele esqueceu onde mora... Esqueceu o dinheiro da pinga... Esqueceu do banho... Esqueceu de ir para o trabalho... Só a dor de amor que ela ainda não esqueceu...

Na outra rua ele ensina a lição para as crianças enquanto ela faz o jantar. Ele pensa no divórcio, ela em traição. A comida está pronta e todos comem em silêncio. As crianças pensam que querem batata-frita, ele pensa nas contas a pagar, ela pensa que quer ir ao cabeleireiro... Nenhuma palavra.

Isso tudo enquanto aquele sujeito franzino espera na parada... Uns dizem que ele espera para assaltar... Outros dizem que ele espera para morrer... Mas ele só espera o último ônibus para começar a trabalhar....

Ainda há quem não tem casa, nem preocupações... Há quem passe o dia dormindo... Há quem fume na escada do prédio... Há quem saia para passear... Há quem não ande correndo... Há, ainda, quem escreva bobagens no meio da noite.


2 comentários:

Fóssil disse...

E há quem leia extasiado essa tua prosa fantástica!

Estrela disse...

Olá...li o texto com minha irmã e rimos um pouco..é verdade..de onde estamos dá p/ observar a vida dos outros e olharmos p/ ela de uma maneira mágica.
Obrigada pelo lindo texto.
Bjs no coração (*_*)

 
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