13 de abril de 2009 3 comentários

FRAGMENTOS II


Sobre a ausência de todas as coisas


Está foi uma manhã em que fulano acordou sem pensar em alguém. Fulano só pensou que não queria acordar. E enquanto preparava o café fulano via as pessoas na rua, via o jornaleiro tentando convencer o motorista. O motorista tentando vencer o sinal. O sinal dando passagem às pessoas. As pessoas tropeçando umas nas outras.

E bebeu o café com calma, sem pressa de chegar a algum lugar, sem medo de se queimar. Ele quis dormir de novo, ele quis ler um livro, ele quis contar os azulejos da vizinha, ele quis, ele quis...

Ele precisou sair, precisou esbarrar na mulher apressada, precisou olhar para o relógio e fingir uma falsa preocupação com o tempo, ele precisou o tempo porque precisava precisar.

Da janela de seu prédio ele viu o tempo passar e para alcançar o tempo ele resolveu trabalhar, mas já faz algum tempo que nem ele sabe mais no que trabalhar. Mas ele tem que executar, ele tem que não pensar, ele não precisa querer.

O tempo passou e fulano ficou, ficou para trás, ficou sozinho, ficou por ficar, ele ficou, ele ficou...



Quisera eu ter palavras para expressar: angústia!

Talvez ficasse menos inquieta

Talvez conseguisse gritar

Desamarrar o nó da minha garganta,

Que entrelaça meus dedos e não os deixam falar.


A primeira folha do caderno novo,

Guarda as palavras de outro tempo

Mas é só uma estrofe,

Uma estrofe fora do lugar, que rima com coisa nenhuma.


Quisera eu ter palavras

Daquelas que desnudam mais que um olhar

Daquelas que afagam

Ou até aquelas que te ferem de morte.

Quisera eu...


Quisera eu ouvir uma música e escrever um poema

Ler um poema e sonhar uma vida

Ter uma vida e sonhar com um poema

Quisera eu ter palavras para sentir,

Sentir para falar.



E no fim, é tudo poema incompleto

É meio sofrimento

É meia angústia

Meio desamor

Meio fim

Meia dor

Engraçado: como pude me enganar e sonhar com felicidade completa?!





Eu não sonho mais

Tão pouco sei o que é isso que chamam de futuro.





Precisão

Olhe moça, não carece perguntar porque,

Apenas me abrace.

E nem precisa perguntar quem sou,

Apenas me reconheça.

Olhe nos meus olhos como se olhasse pra si mesma,

E me queira.




.




...






Nenhuma palavra pra você.





Eram para ser.. lírios


Ninguém avistou a moça mais linda de todas.

A moça mais linda de todas fez ninguém chorar.

Ninguém chorou porque acabou de se apaixonar.

Ninguém se apaixonou pela beleza da moça,

A moça mais linda de todas.


Ninguém se apaixonou por que a moça mais linda,

De todas, o fazia se sentir alguém.

Alguém que sentia,

Alguém que poderia tudo,

Alguém que vencesse ninguém,

Alguém que quase não tivesse medo de nada.


Então Ninguém, que agora era alguém,

Resolveu presentear a moça,

Mais linda, de todas.

Então Alguém, que um dia foi Ninguém, foi a lugar nenhum,

Lugar nenhum, não tinha nada,

A não ser um punhado de lírios.

Assim, ninguém, vindo de lugar nenhum, chegou a qualquer lugar,

Com um punhado de lírios gritou:

Desafio-te a me amar!

E a moça,

Mais linda,

De todas, se pôs a escutar:

O desafio de um alguém, ou de um ninguém,

Que só queria amar.





Eu nunca desejei nada

Mas agora desejo muito parar de desejar.


 
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